Imigrantes alemães e nordestinos se encontram numa casa do Rio de
Janeiro. O primogênito dos alemães, adventistas, corre no Circuito da
Gávea, prova pioneira do automobilismo no país. Na disputa, a
participação de Nino Crespi, Carlo Pintacuda e da exuberante Dona
Hele-Nice. O caçula da família de Pernambuco, cuja mãe expulsa-o da
carreira política, é locutor de rádio e forma-se bacharel. Esteve em
Brasília antes da inauguração, da capital foi defenestrado trinta anos
depois para mergulhar definitivamente nas lembranças do Recife. Antes
disso, andara de pouso em pouso até que se extasiou com a aparição de
uma estrela de cinema ? herdeira da oficina dos alemães em seus dias
de glória ? em pleno centro da cidade, próximo à Cinelândia. Na
convivência, os descendentes testemunham a decadência da firma, o
crescimento urbano, os sonhos abandonados, o comércio da fé, a
desilusão dos políticos de colarinhos frouxos: são personagens que,
numa cidade entupida por automóveis de inúmeras marcas, cores,
modelos, tipos de financiamento, traçam vidas comezinhas.
No entanto, sob o amesquinhamento de vidas subjugadas à normalidade
cotidiana, a narrativa se ilumina no cruzamento de fatos do passado,
da história carioca, de referências da literatura e do cinema e de
depoimentos metalingüísticos que, distorcidos, algumas vezes, até o
limite do absurdo, garantem absoluta autonomia ficcional ao que se
pretendeu, originalmente, memória.
O
LIVRO E A CRÍTICA
"O romance não segue uma ordem cronológica, e seus capítulos parecem
independentes uns dos outros. Em meio a eles, são inúmeras as
referências literárias ? aos grandes cronistas da vida carioca, como
Antonio Maria, Rubem Braga e Sérgio Porto, e a poetas do porte de João
Cabral de Melo Neto e Carlos Pena Filho (um dos mais importantes
poetas pernambucanos). Ou até mesmo referências aos sucessos da Jovem
Guarda e a escalações de Copas do
Mundo" (Tiago Zanoli, "A trajetória de duas famílias de imigrantes", A Gazeta Livros, 27/2/2012)
"Dotada de um estilo refinado e poético, a autora de A Oficina começa
sua narrativa de forma nebulosa, e o leitor só começa a compreendê-la
conforme avança na leitura. Ela, que também já traduziu obras de
Virginia Woolf e G.K. Chesterton, diz ter se embebido muito mais na
obra de poetas brasileiros do que propriamente de romancistas, para
compor o estilo de sua estreia ficcional." (Yuri Al'Hanati, "Encontro
insólito entre alemães e nordestinos", Gazeta do Povo, 11/1/2012) |